6 março: Lançamento do Living Archives of Australian Languages (LAAL). Vejam tudo em:
www.cdu.edu.au/laal
www.cdu.edu.au/laal
O 13o Australian Languages
Workshop começou na sede da AIATSIS em Canberra, na tarde do dia 7 de março
e continuou em Kioloa, o campus litorâneo da ANU, nos dias 8 e 9 março.
Vejam a programação do workshop (pdf)!
https://drive.google.com/file/d/0B3NMV4qrdP7IUFRBb3NOYXpwRm8/edit?usp=sharing
Na tarde do dia 7, foram realizadas duas sessões paralelas, uma sobre
História e Parentesco, outra sobre natureza, gestão e acesso a acervos digitais
(área em que linguistas e técnicos australianos, sobretudo os da AIATSIS, são
especialmente competentes e eficientes). A primeira apresentação, por Michael
Christie e Jane Simpson, foi “Línguas australianas, literaturas e tecnologias
no Northern Territory”. Nesta região ainda há 60% da população nativa
ainda falante de suas línguas. O foco foram os acervos que podem ser
encontrados em: www.cdu.edu.au/laal.
Trata-se de documentos, em sua maioria escritos, produzidos em função de
programas/projetos de educação, muitos dos quais contêm registro de diferentes
línguas, algumas não mais usadas. O acervo inclui material produzido na
primeira fase, definida como da “educação bilíngue”, que começou em 1973 até o
final dos anos 70/início anos 80. A 1ª fase foi caracterizada pela atividade
missionária, principalmente nos postos de “aldeamento” chamados de missions, administrados pelo estado e
pelas missões (protestantes e católicas), quando as salas de aula eram
compostas por cerca de 45 alunos nenhum deles falantes de inglês. Neste período
surgiram Centros de Produção de Literatura Indígena e os arquivos do LAAL
contém vasto material composto por cartilhas, livros de narrativas curtas ou
longas (coletadas junto aos falantes mais velhos), desenhos.
Pensando no
Brasil: seria uma
boa iniciativa (por parte de MEC e FUNAI) produzir acervos digitais contendo o
imenso material de caráter tanto “educacional” produzido desde os anos 60,
inclusive por missões nos quatro cantos do país; e seria uma excelente
iniciativa se se conseguisse tornar acessíveis os materiais produzidos por
missões quais o Summer Institute of Linguistics, MEVA, Novas Tribos, entre
outras, rompendo as barreiras mantidas por estas instituições, que
monopolizaram a pesquisa e a educação indígena por pelo menos 30 anos.
A 2ª fase, nos anos 80, foi chamada de “aboriginalized education” (o projeto Yirrkala se destaca); foi um
período caracterizado por “apreciação da tradição, orgulho e participação” por
parte das populações nativas envolvidas. O papel dos professores não-indígenas
começou a ser relativizado. O material produzido e publicado revela maior
complexidade (mapas, iconografias, pictografias, registros de aspectos
culturais, jornais em língua indígena, coletâneas de narrativas com ilustrações
mais sofisticadas e feitas por artistas locais). Foram implementados curricula
baseados nas demandas indígenas.
A 3ª fase (anos 90) foi marcada por um retrocesso violento, com retirada
dos apoios institucionais, mas, ao mesmo tempo, foi então que começaram
iniciativas chamadas de “local digital
knowledge work”.
Aos poucos os investimentos governamentais recomeçaram, já no final dos
anos 90, tendo como resultado a apropriação da tecnologia digital, por parte
dos atores indígenas e não-indígenas. Vejam em:
e o projeto Teaching from Country em território Yolngu:
Houve e há engajamento de muitos antropólogos nos projetos mencionados.
O trabalho para recuperar os materiais é longo e se organiza basicamente nas
seguintes e sucessivas atividades: (i) identificação e recuperação das fontes;
(ii) envolvimento das comunidades indígenas; (iii) envolvimento das escolas;
(iv) envolvimento de agentes acadêmicos (pesquisadores).
Hoje se observa uma interessante produção de conhecimentos através do
trabalho “escolar”, assim como a consolidação de disciplinas explicadas e com
materiais de qualidade em língua indígenas, como matemática, com extensão do
léxico e de outros recursos linguísticos.
Pensando no
Brasil: a AIATSIS
tem um orçamento anual de 10 milhões de dólares australianos, valor considerado
insuficiente: qual é o investimento público no Brasil para a manutenção e
reforço das línguas indígenas, para a revitalização das que estão em situação
de quase desaparecimento?
Por outro lado, iniciativas como a do ProDoclin e do Museu Goeldi se
diferenciam, em positivo, pelo esforço na formação de pesquisadores e cineastas
(documentaristas) indígenas, pelo incentivo ao surgimento de centro locais de
documentação com doação de equipamentos e de acervos digitais comunitários.
Ainda são poucas iniciativas, circunscritas, que sobrevivem apesar da escassez
crônica de recursos.
Doug Marmion, linguista da AIATSIS, apresentou em seguida os resultados
do National Indigenous Languages Survey
2 (NILS 2), cujo
relatório pode ser lido em:
Pensando no
Brasil: o NILS se
assemelha ao Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), programa
brasileiro que, finalmente, deve começar ainda em 2014. O quesito “língua” consta
também do censo australiano e é bom saber que os resultados dos censo
australiano apresentam os mesmos problemas dos do censo brasileiro de 2010. O
NILS foi pensado e realizado para corrigir esses problemas. No relatório NILS
estão os questionários usados assim como as etapas do trabalho, os
procedimentos de consulta às comunidades indígenas, ferramentas e metodologia.
O que interessa aqui registrar é que o NILS 2 permitiu estabelecer com
relação às línguas nativas na Austrália que: (i) 120 delas ainda são faladas,
mas (ii) somente 13 podem ser consideradas vitais, fortes; (iii) 100 são
extremamente ameaçadas de desaparecer; (iv) nos últimos dez anos, 5 línguas
passaram de “fortes” para extremamente ameaçadas. É impressionante saber que 30
línguas estão retomando força graças aos resultados de programas de
revitalização. Não podemos esquecer da grande variedade e continua dialetais e
de registros (as famosas mother-in-law
languages, cantos, fala infantil, masculina e feminina, etc.), variedades
também fortemente ameaçada nas línguas ainda vitais.
Ainda na tarde do dia 7, Melissa Jackson apresentou os resultados já
alcançados pelo programa de identificação, recuperação, catalogação,
digitalização e disponibilização dos materiais sobre e em línguas indígenas
australianas existentes na Biblioteca de Melbourne (entre outros, 14 km
lineares de estantes com manuscritos, tarefa realizada pelo linguista Michael
Walsh, da AIATSIS, e sua equipe, onde foram encontradas listas de cerca de 200
línguas). Além do acesso à documentação digitalizada, será aberta uma seção
específica na própria biblioteca. E no Brasil?
A última apresentação foi a de Jaky Troy, Michael Walsh e Doug Marmion.
O tema é relevante no contexto australiano: o desenvolvimento de metodologias e
tecnologias para o ensino de línguas indígenas nas escolas. A apresentação está
baseada nos documentos escritos para fundamentar o Australian Curriculum of Languages Assessment. Tivemos a
oportunidade de ver de perto como funciona o ensino de línguas indígenas em
escolas públicas urbanas, em Parkes e Melbourne. O papel da educação escolar
pública está se tornando central não apenas para a revitalização como também
para a difusão de conhecimentos que resultam em diminuição de racismo e
preconceitos. A introdução de outras línguas nas escolas segue em 3 níveis,
chamados Learner Pathways (caminhos
de aprendizado): (i) First Language
Pathway (L1) vale para os falantes das línguas indígenas ainda fortes, com
alfabetização em língua indígena; (ii) Revival
Language Learner Pathway (LR) onde há línguas indígenas “adormecidas” a
serem revitalizadas; (iii) Second Language Learner Pathway (L2), visando a
inclusão de línguas indígenas junto com as outras L2 (línguas de imigrantes,
como italiano, japonês, etc.).
No dia 8 viajamos para Kioloa, Campus Litorâneo da ANU (Australian National University), 250 km
de Canberra. O campus de Kioloa é de fato um pequeno centro para eventos e para
pesquisadores e docentes que queiram se reunir, discutir, trabalhar em grupo ou
em isolamento. A infraestrutura é simples e eficiente, a gestão é compartilhada
e solidária, umas casas simples es confortáveis, um refeitório comum, uma bela
construção com auditórios e salas. Tudo muito ecológico, sóbrio, no meio de uma
área de proteção ambiental, floresta litorânea, belíssimas praias oceânicas
(Pacífico), muitos mas muitos cangurus, pássaros coloridos.
Vizinhos no campus da ANU em Kioloa (foto BF)
Foto BF
O programa do workshop mostra claramente que foi um evento estritamente
científico, com resultados de pesquisas em fonologia, morfologia, sintaxe,
pragmática, e outras abordagens inter ou multi-disciplinares. Percebemos a
qualidade e diversidade dos estudos linguísticos de línguas indígenas na Austrália.
Destacamos o alto nível das investigações fonológicas, onde os estudos de
prosódia e experimentais assumem cada vez mais um papel de primeiro plano.
Aliás, a pesquisa experimental esteve presente em praticamente todos os campos,
da fonologia à pragmática até os estudos de aquisição. A sofisticação
tecnológica ficou evidente. Particularmente interessante foram os estudos
lexicais e lexicográficos; observamos o desenvolvimento de dicionários cada vez
mais completos e complexos, bem como a grande quantidade de gramáticas
descritivas publicadas, em via de publicação ou em desenvolvimento. Em outras
palavras, grande ênfase é dada a boa linguística descritiva, que, como sabemos,
é o alimento dos bons trabalhos teóricos, cada vez mais voltados para a comparação
não somente de línguas aparentadas.
Querem saber da mídia indígena na Austrália? Há mais do que
imaginávamos:
“Bush TV" at Alice Springs
(Central Australia)
Pintupi Anmatyerr Warlpiri
Ngaanyatjarra Media
PAKAM - Pilbara and
Kimberley Aboriginal Media
TEAABA media
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